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29 de março de 2009

SENTAR-SE NA JANELA- ALEXANDRE GARCIA



SENTAR-SE À JANELA

Era criança quando, pela primeira vez,

entrei em um avião.

A ansiedade de voar era enorme.

Eu queria me sentar ao lado da

janela de qualquer jeito, acompanhar

o vôo desde o primeiro momento e sentir

o avião correndo na pista cada vez

mais rápido até a decolagem.

Ao olhar pela janela via, sem palavras,

o avião rompendo as nuvens,

chegando ao céu azul.

Tudo era novidade e fantasia..

Cresci, me formei, e comecei a trabalhar.

No meu trabalho, desde o início,

voar era uma necessidade constante.

As reuniões em outras cidades e

a correria me obrigavam, às vezes,

a estar em dois lugares num mesmo dia.

No início pedia sempre poltronas ao

lado da janela, e, ainda com olhos de menino,

fitava as nuvens, curtia a viagem,

e nem me incomodava de esperar

um pouco mais para sair do avião,

pegar a bagagem, coisa e tal

.O tempo foi passando, a correria

aumentando, e já não fazia questão

de me sentar à janela, nem mesmo

de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo,

o mar ou qualquer paisagem que fosse

.Perdi o encanto. Pensava somente em

chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido.

As poltronas do corredor agora eram exigência.

Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém,

sempre e sempre preocupado com a hora,

com o compromisso, com tudo, menos com

a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

.Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino,

estava eu louco para voltar de São Paulo

numa tarde chuvosa, precisando

chegar em Curitiba o mais rápido possível.

O vôo estava lotado e o único lugar disponível

era uma janela, na última poltrona.

Sem pensar concordei de imediato,

peguei meu bilhete e fui para o embarque.

Embarquei no avião, me acomodei

na poltrona indicada: a janela.

Janela que há muito eu não via, ou melhor,

pela qual já não me preocupava em olhar.

E, num rompante, assim que o avião decolou,

lembrei-me da primeira vez que voara.

Senti novamente e estranhamente

aquela ansiedade, aquele frio na barriga.

Olhava o avião rompendo as nuvens escuras

até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.

Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto.

E também o sol, que brilhava como se tivesse

acabado de nascer.Naquele instante, em que

voltei a ser criança, percebi que estava

deixando de viver um pouco a cada

viagem em que desprezava aquela vista.

Pensei comigo mesmo: será que em relação

às outras coisas da minha vida eu também

não havia deixado de me sentar à janela,

como, por exemplo, olhar pela janela

das minhas amizades, do meu casamento,

do meu trabalho e convívio pessoal?C

reio que aos poucos, e mesmo sem perceber,

deixamos de olhar pela janela da nossa vida.

A vida também é uma viagem e se não nos

sentarmos à janela, perdemos o que há

de melhor: as paisagens, que são nossos amores,

alegrias, tristezas, enfim, tudo o que

nos mantém vivos.Se viajarmos somente

na poltrona do corredor, com pressa

de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos

a oportunidade de apreciar as belezas que

a viagem nos oferece.

Se você também está

num ritmo acelerado, pedindo sempre

poltronas do corredor, para embarcar e

desembarcar rápido e 'ganhar tempo',

pare um pouco e reflita sobre aonde

você quer chegar.

A aeronave da nossa

existência voa célere e a duração

da viagem não é anunciada

pelo comandante.

Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.

Por essa razão, vale a pena sentar

próximo da janela para não perder

nenhum detalhe.

Afinal, 'a vida, a felicidade e a

paz são caminhos e não destinos'.

ALEXANDRE GARCIA

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