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10 de março de 2009

MULHERES ...AMIGAS


AMIGAS ...SEMPRE AMIGAS!
MULHERES POSSÍVEIS...

Texto na Revista do Jornal O Globo

Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.
Sou a "Miss Imperfeita", muito prazer.
Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer,
como boa profissional, mãe e mulher que também sou:
trabalho todos os dias, ganho minha grana,
vou ao supermercado três vezes por semana,
decido o cardápio das refeições,
levo os filhos no colégio e busco,
almoço com eles quando dá,
estudo com eles sempre que precisam,
telefono para minha mãe todas as noites,
procuro minhas amigas, namoro, viajo,
vou ao cinema, pago minhas contas,
respondo a toneladas de e-mails,
faço revisões no dentista, mamografia,
caminho meia hora diariamente (estou tentando),
compro flores para casa,
providencio os consertos domésticos,
participo de eventos e reuniões
ligados a minha profissão e ainda
faço escova toda semana - e as unhas!
E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja,
aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NAO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NAO.
Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero e o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta
adentrou a sala da maternidade e lhe
apontou o dedo dizendo que a partir
daquele momento você seria modelo para os outros.
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram
essa expectativa: tudo o que desejaram
é que você não chorasse muito durante
as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar
e a se divertir, bye-bye vida interessante.
Porque vida interessante não é ter a agenda
lotada, não é ser sempre politicamente correta,
não é topar qualquer projeto por dinheiro,
não é atender a todos e criar para
si a falsa impressão de ser indispensável.
É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias.
Cinco dias!
Tempo para uma massagem.
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga
que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur
novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que
você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir
que você pode ser perfeitamente organizada
e profissional sem deixar de existir para a
vida interessante.
Porque nossa existência não é contabilizada
por um relógio de ponto ou pela quantidade
de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga.
Acredita que, se não for super, se não for mega,
se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada.
Está tentando provar nao-sei-o-que para nao-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma,
privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedaçao de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente
do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito
mais sexy e muito mais livre para ir e vir.
Desde que lembre de separar alguns
MUITOS momentos da semana para
usufruir essa independência, senão é escravidão,
a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa,
espiando a vida pela janela no século passado.
Desacelerar tem um custo.
Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada,
o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir que uma boa bolsa de palha,
uma pousadinha rústica a beira-mar e
o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado)
podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar
uma nova perspectiva sobre o que é, afinal,
uma vida interessante. A vida recomeça todos os dias.
Faça mais por você daqui pra frente.
E esqueça a culpa por favor.
Como a vida, você será muito
mais interessante também.

Martha Medeiros - Jornalista e escritora

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