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9 de agosto de 2010
O QUE AS MULHERES FAZEM QUANDO ESTÃO COM ELAS MESMAS ...SOLIDÃO CONTENTE
SOLIDÃO CONTENTE
O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas
Ivan Martins
IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA
Ontem eu levei uma bronca da minha prima.
Como leitora regular desta coluna, ela se queixou,
docemente, de que eu às vezes escrevo sobre
“solidão feminina” com alguma incompreensão.
Ao ler o que eu escrevo, ela disse,
as pessoas podem ter a impressão de que a
s mulheres sozinhas estão todas desesperadas
– e não é assim.
Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem.
Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas.
Saem com um sujeito lá e outro aqui,
mas acham que nenhum deles cabe na vida delas.
Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas.
Minha prima sabe do que está falando.
Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas
adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita,
batalhadora, independente – e mora sozinha.
Ontem, enquanto a gente tomava uma
taça de vinho e comia uma tortilha ruim
no centro de São Paulo, ela me lembrou de
uma coisa importante sobre as mulheres:
o prazer que elas têm de estar com elas mesmas.
“Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes,
sentar no sofá com a cachorra nos pés
e curtir a minha casa”, disse a prima.
“Não preciso de mais ninguém para me
sentir feliz nessas horas”. Faz alguns anos,
eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e,
para meu desespero, ela dizia e fazia coisas
semelhantes ao que conta a minha prima.
Gostava de deitar na banheira, de acender velas,
de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha.
E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim,
achava que era um sintoma de falta de amor.
Hoje, olhando para trás, acho que não tinha
falta de amor ali.
Eu que era desesperado, inseguro, carente.
Tivesse deixado a mulher em paz, com os
silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo
tivesse andado melhor do que andou.
Ontem, ao conversar com a minha prima,
me voltou muito claro uma percepção
que sempre me pareceu assombrosamente evidente:
a riqueza da vida interior das mulheres comparada
à vida interior dos homens, que é muito mais pobre.
A capacidade de estar só e de se distrair consigo
mesma revela alguma densidade interior,
mostra que as mulheres (mais que os homens)
cultivam uma reserva de calma e uma capacidade
de diálogo interno que muitos homens
simplesmente desconhecem.
A maior parte dos homens parece
permanentemente voltada para fora.
Despeja seus conflitos interiores no mundo,
alterando o que está em volta.
Transforma o mundo para se distrair,
para não ter de olhar para dentro, onde dói.
Talvez por essa razão a cultura masculina
seja gregária, mundana, ruidosa.
Realizadora, também, claro.
Quantas vuvuzelas é preciso soprar
para abafar o silêncio interior?
Quantas catedrais para preencher o meu vazio?
Quantas guerras e quantas mortes para
saciar o ódio incompreensível que me consome?
A cultura feminina não é assim.
Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista,
está se tornando masculinizado.
Todo mundo está fazendo barulho.
Todo mundo está sublimando as dores
íntimas em fanfarra externa.
Homens e mulheres estão voltados para fora,
tentando fervorosamente praticar a negligência
pela vida interior – com apoio da publicidade.
Se todo mundo ficar em casa com os seus
sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas,
as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí,
24 horas por dia, sete dias por semana?
Tem de ser superficial e feliz.
Gastando – senão a economia não anda.
Para encerrar, eu não acho que as
diferenças entre homens e mulheres sejam inatas.
Nós não nascemos assim.
Não acredito que esteja em nossos genes.
Somos ensinados a ser o que somos.
Homens saem para o mundo e o transformam,
enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos,
bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa.
Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar.
O que virá da transformação é difícil dizer.
Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante
não subestimar a cultura feminina.
Não imaginar, por exemplo, que atrás
de toda solidão há desespero.
Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia.
Pode haver escolha.
Como diz a minha prima, ficar em casa
sem companhia pode ser um bom
programa – desde que as pessoas gostem
de si mesmas e sejam capazes de suportar
os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil.
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como é dificil arrumar este tempo para mim mesma.
ResponderExcluiracho q só dormindo né!
Estela Santos
Londrina
NOSSO COMO PRECISO DESTE TEMPO PARA MIM!!!
ResponderExcluirSOCORRO!!!
EU QUERO!!
SP