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18 de setembro de 2010

O Alzheimer, pelo paciente‏



O Alzheimer, pelo paciente.
Arthur Rivin
- O Estado de S.Paulo de 03/02/2010
Sou médico aposentado e professor de medicina. E tenho Alzheimer.
Antes do meu diagnóstico, estava familiarizado com a doença, tratando pacientes com Alzheimer durante anos.
Mas demorei para suspeitar da minha própria aflição.
Hoje, sabendo que tenho a doença, consegui determinar quando ela começou, há 10 anos, quando estava com 76.
Eu presidia um programa mensal de palestras sobre ética médica e conhecia a maior parte dos oradores.
Mas, de repente, precisei recorrer ao material que já estava
preparado para fazer as apresentações.
Comecei então a esquecer nomes, mas nunca as fisionomias.
Esses lapsos são comuns em pessoas idosas,
de modo que não me preocupei.
Nos anos seguintes, submeti-me a uma cirurgia
das coronárias e mais tarde tive dois pequenos
derrames cerebrais.
Meu neurologista atribuiu os meus problemas
a esses derrames, mas minha mente continuou a deteriorar.
O golpe final foi há um ano, quando estava recebendo uma
menção honrosa no hospital onde trabalhava.
Levantei-me para agradecer e não
consegui dizer uma palavra sequer.
Minha mulher insistiu para eu consultar um médico.
Meu clínico-geral realizou uma série de testes de memória em seu consultório e pediu depois uma tomografia PET,
que diagnostica a doença com 95% de precisão.
Comecei a ser medicado com Aricept,
que tem muitos efeitos colaterais.
Eu me ressenti de dois deles: diarreia e perda de apetite.
Meu médico insistiu para eu continuar.
Os efeitos colaterais desapareceram e comecei
a tomar mais um medicamento, Namenda.
Esses remédios, em muitos pacientes,
não surtem nenhum efeito. Fui um dos raros felizardos.
Em dois meses, senti-me muito melhor e hoje
quase voltei ao normal.
Demoramos muito tempo para compreender
essa doença desde que Alois Alzheimer,
médico alemão, estabeleceu os primeiros elos,
no início do século 20, entre a demência
e a presença de placas e emaranhados de material desconhecido.
Hoje sabemos que esse material é o
acúmulo de uma proteína chamada beta-amilóide.
A hipótese principal para o mecanismo da doença de
Alzheimer é que essa proteína se acumula nas células do cérebro,provocando uma degeneração dos neurónios.
Hoje, há alguns produtos farmacêuticos para limpar essa proteína das células.
No entanto, as placas de amilóide podem ser
detectadas apenas numa autópsia, de modo que
são associadas apenas com pessoas que desenvolveram plenamente a doença.
Não sabemos se esses são os primeiros
indicadores biológicos da doença.
Mas há muitas coisas que aprendemos.
A partir da minha melhora, passeia
fazer uma lista de insights que gostaria de com partilhar com outras pessoas que enfrentam problemas de memória:
tenha sempre consigo um caderninho de notas e escreva o que deseja lembrar mais tarde.
Quando não conseguir lembrar de um nome, peça para que a pessoa repita e então escreva.
Leia livros.
Faça caminhadas.
Dedique-se ao desenho e à pintura.
Pratique jardinagem.
Faça quebra-cabeças e jogos.
Experimenta coisas novas.
Organize o seu dia.
A dote uma dieta saudável,
que inclua peixe duas vezes por semana,
frutas e legumes e vegetais, ácidos graxos ómega 3.
Não se afaste dos amigos e da sua família.
É um conselho que aprendi a duras penas.
Temendo que as pessoas se apiedassem de mim,
procurei manter a minha doença em segredo e isso significou me afastar das pessoas que eu amava.
Mas agora me sinto gratificado ao ver como as
pessoas são tolerantes e como desejam ajudar.
A doença afeta 1 a cada 8 pessoas com mais de 65 anos e quase a meta dedos que têm mais de 85.
A previsão é de que o número de pessoas com
Alzheimer nos EUA dobre até 2030.
Sei que, como qualquer outro ser humano, um dia vou morrer.
Assim, certifiquei-me dos documentos que necessitava examinar e assinar enquanto ainda estou capaz e desperto,
coisas como deixar recomendações por escrito
ou uma ordem para desligar os aparelhos
quando não houver chance de recuperação.
Procurei assegurar que aqueles que amo
saibam dos meus desejos. Quando não souber mais quem sou, não reconhecer mais as pessoas ou estiver incapacitado, sem nenhuma chance de melhora,
quero apenas consolo e cuidados paliativo.
ARTHUR RIVIN
FOI CLÍNICO-GERAL E
É PROFESSOR EMÉRITO DA
UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA

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